Qual é a forma de vida que a tecnologia nos impôs?


Se me permitirem iniciar com uma reflexão, gostaria de perguntar: "Qual é a forma de vida que a tecnologia nos impôs?"

A resposta a essa questão pode nos levar a compreender uma verdade inquietante sobre a relação entre o homem moderno e a depressão.

Vivemos numa época em que o avanço tecnológico redefine a nossa linguagem, os nossos hábitos, e, consequentemente, a maneira como percebemos e experimentamos o mundo. Como filósofo, acredito que a linguagem é o meio pelo qual construímos nossa realidade. Se as palavras moldam o que conhecemos como verdade, o que dizer do impacto da tecnologia, que substitui a comunicação humana por interações mediadas por máquinas? Nessa transição, a experiência de ser humano parece ter se tornado fragmentada, desconectada de seu próprio significado.

Pensem na solidão profunda que muitos sentem, mesmo em meio à hiperconectividade. Ao substituir o encontro real por interações digitais, caímos na armadilha de formas de vida que não promovem o entendimento genuíno entre os homens, mas uma ilusão de companhia. As mensagens instantâneas, as redes sociais, as notificações ininterruptas: tudo isso não cria pontes entre as almas humanas; cria uma cacofonia. Uma confusão de jogos de linguagem em que a presença e a profundidade são perdidas. Isso não é comunicação, mas uma simulação de entendimento.

Aqui, surge a questão da depressão. A tecnologia, ao invés de ampliar as nossas relações com o mundo, muitas vezes restringe e limita a nossa capacidade de perceber a realidade de maneira plena. A vida cotidiana, filtrada por telas, transforma-se num espetáculo no qual o sujeito perde o contato consigo mesmo. O que é a depressão, se não a sensação de estar desconectado do próprio sentido? É uma vida onde os jogos de linguagem que construímos com os outros já não fazem mais sentido para nós.

Um exemplo simples: quando passamos horas a observar imagens e vidas perfeitas nas redes sociais, caímos num jogo onde não há vitória. Comparamos nossas vidas reais com uma ficção e, ao fazê-lo, perdemos o contato com o que somos e com o valor da nossa própria existência. A tecnologia cria novos critérios de avaliação, novas regras, mas essas regras são vazias de significado verdadeiro. O ser humano, ao se submeter a elas, sente-se inadequado, isolado, confuso. E assim a depressão cresce.

Minha proposta é simples, mas não fácil: devemos reexaminar nossa relação com a tecnologia, voltando a perguntar o que realmente queremos comunicar, o que realmente queremos ser. A libertação da depressão tecnológica, acredito, só virá quando retornarmos a formas de vida que sejam autênticas, onde nossas interações não sejam meramente "conexões", mas encontros genuínos.

Precisamos, em última instância, de uma nova claridade uma clareza sobre os limites da tecnologia e o valor da experiência humana não mediada por ela. Pois, como sempre acreditei, os problemas da filosofia são, no fundo, problemas de linguagem. Talvez, assim, possamos começar a desfazer o nó em que nos encontramos.

Postagens mais visitadas